terça-feira, 3 de julho de 2012

Filosofias Educacionais na Educação dos Surdos (Parte 1)


Em meio a várias defesas sobre qual metodologia embasar a educação dos surdos, atualmente há três abordagens que causam divergências e conflitos entre profissionais e instituições que as seguem. Esses conflitos ficaram marcados em dois momentos da história da educação dos surdos, nos anos de 1750 e 1880, quando foi analisado e experimentado diferentes abordagens, definido qual era a melhorabordagem a ser seguida.

No Brasil, não existe uma abordagem a ser seguida como única para todas as instituições que trabalham com surdos. Cada instituição é livre para escolher qual melhor abordagem fundamenta a educação dos surdos.

As abordagens que fundamentam a educação dos surdos são: Oralismo, Comunicação Total e Bilingüismo, as quais tentaremos compreender, caracterizando-as:

Oralismo

Com base nos estudos feitos por Soares (1999), o oralismo ou filosofia oralista se desenvolveu na Alemanha, com a proposta de uma educação exclusivamente oralista.

A visão oralista diz que só a fala permite a integração do surdo à vida social e que a língua de sinais prejudicam o desenvolvimento da linguagem, bem como a precisão das idéias. A noção da linguagem, para vários profissionais desta filosofia, direciona-se à língua oral, e esta deve ser a única forma de comunicação dos surdos. Esta forma de pensar ocorre pelo fato de que os surdos eram minoria enquanto comunidade, e o ideal seriam que os surdos se adequassem aos grupos majoritários dos que ouvem.

O método oralista estava voltado prioritariamente para a aquisição e compreensão da fala, passou a ser a solução para a educação de surdos. Assim, o sucesso da sua escolarização e, por decorrência, de sua integração social, dependeria do domínio, por parte do professor, de determinados procedimentos técnicos que objetivavam a sua oralização.

A opção pelo oralismo na educação de surdos vinha, desta vez, acompanhada de um comportamento entusiástico pela sua educação. Através de um determinado método, os surdos seriam normalizados, escolarizados e tornar-se-iam cidadãos iguais aos outros.

A autora Soares (1999), ainda explica que esta opção metodológica visa, prioritariamente, a aquisição da linguagem oral, subordinando a esta o ensino das disciplinas escolares. O oralismo visa capacitar a pessoa surda a utilizar a língua da comunidade ouvinte na modalidade oral como única possibilidade lingüística.

Neste sentido, o uso da língua será o mais semelhante possível ao modelo ouvinte através de técnicas fonarticulatórias, sendo auxiliados através de aparelhos; assim, a LIBRAS era proibida em sala de aula e no contexto social. Neste caso, é indispensável o apoio do fonoaudiólogo.

O modelo clínico denomina o surdo como "D.A.", que significa Deficiente Auditivo, vendo o surdo como um paciente com deficiência auditiva, ou seja, como uma pessoa que não ouve, mas que pode fazer leitura orofacial.

A respeito desta proposta de educação para surdos através do método oralista, a autora Góes (1996, p. 40) afirma que:

O oralismo fracassou em oferecer condições efetivas para a educação e o desenvolvimento da pessoa surda. Embora pretenda propiciar a aquisição da linguagem oral como forma de integração, acentua, ao invés de eliminar, a desigualdade entre surdos e ouvintes quanto às oportunidades de desenvolvimento lingüístico e cognitivo por exigir do surdo a incorporação da linguagem exclusivamente numa modalidade à qual este não pode ter acesso natural. E, na tentativa de impor o meio oral interditando formas de comunicação gestual-visual, reduz as possibilidades de trocas sociais, somando, assim, obstáculos à integração pretendida.

Porém, os adeptos ao método oralista acreditam que a criança surda se comunique bem quando ela oraliza, pois o oralismo percebe a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada através da estimulação auditiva. O objetivo do oralismo é fazer uma reabilitação da criança surda em direção à normalidade, à "não-surdez". Assim, o oralismo espera que, dominando a língua oral, o surdo esteja apto para se integrar à comunidade ouvinte.

Conforme Soares (1997, p. 35) ressalta:

Se, ao contrário, utilizamos um conceito mais amplo de linguagem e se analisarmos sua importância na constituição do indivíduo, como ferramenta dopensamento e como a forma mais eficaz de transmitir informações e cultura, percebemos que somente aprender a falar (oralizar) através de um processo que leva tantos anos é muito pouco em relação às necessidades que a criança surda, como qualquer outra criança tem.

Desta forma, o oralismo visa a integração do surdo no mundo dos ouvintes através do treino da fala, só assim o surdo poderá integrar-se, aprendendo a falar, ler e escrever como a maioria. Os oralistas são contra o uso da LIBRAS, no sentido de que acreditam ser prejudicial ao surdo. Assim, só acontecerá uma completa integração, quando o surdo conseguir utilizar a língua da comunidade majoritária.

A Comunicação Total, como o próprio nome diz, faz com que o surdo possa se comunicar plenamente e se integrar na comunidade em geral, surda e/ou ouvinte. Os requisitos necessários à comunicação total é o desenvolvimento global da criança surda, oferecendo-lhes as mesmas oportunidades de crescimento que são dadas aos ouvintes. Enquanto uma criança ouvinte, diante de um estímulo novo, questiona, obtém respostas e abstrai, a criança surda só terá além da imagem do próprio objeto, movimentos labiais que para ela não terão nenhum significado, se não vierem associados ao movimento corporal e expressão facial.

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